Ártemis e Apolo
na Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã fala da realidade dos Deuses

Claudio Simeoni
traduzido por Dante Lioi Filho

De: CLAUDIO SIMEONI em seu LIVRO: * A ESTIRPE DOS TITÃS *

A Religião Pagã e a Teogonia de Hesíodo

 

Zeus e Latona: Ártemis e Apolo

Latona é gerada pelos Titãs Febe e Céos (chamados também por Foibe e Coio). Destes Astéria é gerada, que unida em amor com Perses, nascido de Crio e Euríbia, geram Hecate!

Esta genealogia, através do simbolismo, nos ilumina sobre a natureza de Latona. O Titã Febe é "a luminosa", a luz do conhecimento, da adivinhação no que se refere ao tempo, que nos vem de encontro, mas também dará a Apolo a característica de Febo Apolo. Céos é a noite escura com estrelas, a noite estrelada; o mundo como aparenta ser ao vir a ser de cada autoconsciência. Destes dois aspectos divinos Astéria é gerada, e esta com Perses geram Hecate; e temos Latona como divindade da escuridão no sentido de esconder ou de ocultar.

Astéria é o céu com estrelas das possibilidades e Latona é aquela que esconde aquilo que pode vir à luz: o ventre materno.

É o ventre, é útero, é o ovo, é o sêmen dos Seres nascidos na Natureza. Latona é a objetividade onde se geram os bissexuados: o princípio feminino e o princípio masculino da vida.

A mudança que Zeus introduz na Natureza por meio da relação entre Latona e Hera é uma mudança impetuosa, agressiva. Não mais somente um nascimento por divisão, mas nascimentos oriundos das condições que são construídas por meio das relações sexuais. Hera agora surge perturbada, agitada, em virtude dessa novidade e passa a agir de modo que Latona não possa dar à luz. Ilítia, o nascimento, é filha de Hera.

O Hino de Homero dedicado a Apolo narra-nos as dificuldades de Latona que não encontra um lugar aonde possa dar à luz. Até que chega a Delos e encontra um lugar para parir. Primeiramente dá à luz à Ártemis, o princípio feminino da vida, entre os dois sexos, e depois pare a Apolo, o princípio masculino da vida entre os Seres da Natureza.

Hesíodo escreve na Teogonia traduzida por Romagnoli:

- Latona gerou, ligando-se em amor com Giove,
Ártemis, que se apraz em arremessar flechas, e Apolo;
e esta foi a sua estirpe predileta entre todos os Urânios.-

Hesíodo, Teogonia 918 - 920

Latona é o ventre que constrói o futuro! Os Seres da Natureza nascem como Deuses. Assim como numerosos espermatozoides correm em direção à morte do corpo físico na tentativa de entrarem na morte, da mesma maneira como dentro de um ovo de onde sairão como corpos luminosos. Na corrida da vida, algum deles alcança a chegada e lá se detém. Alguns crescem pouco e outros são abortados. Algum exausto conquista a meta e algum outro chega à morte do corpo físico repleto de riqueza.

Latona gera os dois sexos, os Seres da Natureza, que geram a si mesmos por meio das relações sexuais: Ártemis é princípio feminino da vida na Natureza, Apolo é o princípio masculino da vida na Natureza.

O ventre dos Seres Mamíferos, os ovos dos répteis, insetos e pássaros, as sementes e tudo o que de similar existe na Natureza, parem sempre Seres da Natureza que tendem a se tornarem Deuses transformando a morte do corpo físico em nascimento do corpo luminoso, como um resultado das suas escolhas durante a existência deles. É a tensão deles, o desejo deles, a necessidade deles! Disto bem o sabe Hera que se nutre do discernimento e das estratégias de vida dos Seres que germinam nela. Nela as contradições da existência são dor, felicidade e prazer da existência. É um envolvimento da própria estrutura emotiva de Hera. Quando os Seres da Natureza se transformam em Deuses, então Hera leva em consideração este acontecimento. Ela viveu as e nas ações deles, se enriqueceu com as escolhas deles, mas com frequência deve renunciar ao conhecimento que tiveram porquê estes Seres da Natureza se separaram da própria Natureza, entrando, portanto, em relação com o mundo do tempo, os Titãs, vivendo as emoções deles ao ponto de se considerarem, a partir de então, filhos de Urano Estrelado.

Por este motivo Hera, dos braços cândidos, dificulta Hércules exceto depois, quando ela mesma o aceita no Olimpo no momento em que Hércules o alcança já transformado em um DEUS. Hera importuna, mas os obstáculos que ela apresenta não são nunca destrutivos ou absolutos. São obstáculos que os Seres nascidos nela, em Hera, devem superar, para se tornarem Deuses. Por isto, Hera, dos braços alvos, teme o nascimento de Apolo.

Latona deve parir. O seu ventre negro não pode conter o DEUS. A Terra treme aguardando a chegada do DEUS. Latona perambula por várias terras. A Terra deve aceitar e acolher o DEUS. Latona não pode pari-lo em qualquer lugar, devendo, pois, estipular um pacto! Somente estipulando um pacto com a Terra o DEUS pode nascer.

Dividindo a vida entre o princípio feminino e o princípio masculino determina-se uma condição geral onde um princípio constrói a harmonia, e o outro princípio perturba a harmonia, obrigando o primeiro princípio a reconstruir uma harmonia depois da absorção da perturbação.

A perturbação é sempre "destruição de um equilíbrio presente" que se resolve recompondo-se em um equilíbrio diferente que já não é mais o retorno ao primeiro equilíbrio, mas comporta um ganho de qualidade. Esta condição não existia quando no mundo a Natureza não era formada pelos dois sexos, mas formada somente pelos que tinham um único sexo.

*NOTA*: Aqui, Claudio Simeoni, usa os termos "Bisessuati" e "monosessuati", que não existem no idioma português, pois bissexual no nosso idioma tem outro sentido.

Neste caso podemos dizer: no início foi Latona e depois foi Zeus. Primeiro foi Ártemis e depois Apolo. Primeiramente existiu o princípio feminino, e depois do princípio feminino, diferenciou-se o princípio masculino. E a Natureza surgiu formada por fêmeas e machos.

Dos dois sexos nasce o homem e o homem tomou a forma e o mito de Apolo. Portanto, quando falamos de Apolo, não estamos falando de Apolo das Zebras, das baratas, do mosquito, do leão ou do pássaro. O Apolo de que falamos é o Apolo modelo dos Seres Humanos.

A explanação a seguir refere-se ao Apolo dos Seres Humanos.

Aquele DEUS terá mãos para construir e mãos para destruir!

Aquele DEUS terá um coração violento e uma determinação feroz!

Aquele DEUS conhece a dança da vida!

Aquele DEUS constrói a si mesmo e não teme destruir!

Qual DEUS Latona pariu?

Latona pariu o Ser Humano feminino e o Ser Humano masculino!

Ainda que nós, como Seres Humanos, enxergamos o grande movimento da vida onde estamos mergulhados e do qual fazemos parte, com um semblante formado um pouco por efeito da razão e um pouco pelo efeito da educação cristã e monoteísta, pela qual estamos condicionados no modo de nos exprimirmos, estamos propensos a nos tornarmos egocêntricos ao que se refere à realidade da vida. Ainda que existindo o Apolo elefante, o Apolo mosquito, o Apolo barata, o Apolo melro-preto, o Apolo abutre, o Apolo carvalho, o Apolo celidônia e um Apolo para cada espécie da Natureza; nós desejamos falar exclusivamente do Apolo em relação aos Seres Humanos.

Latona deu à luz o Ser Humano Macho, Apolo, e o Ser Humano Feminino, Ártemis!

Latona pariu a capacidade de fazer-se DEUS, que os Seres Humanos têm!

Disto resulta a raiva de HERA! Disto advém a dor do Ser Natureza! Nasce um DEUS terrível, aquele que poderia destruí-la: o arqueiro! Nasce armado para manipular a objetividade em que ele vem a ser. Um Deus que obrigará Hera a realizar grandes modificações e grandes estratégias para a sua existência.

Apolo arqueiro e Ártemis atiradora de setas!

Por onde Apolo iniciará a sua destruição? Por onde ele iniciará a sua construção? Cada terra o teme, cada terra o evita, todavia Rea o aguarda! Todavia também os Deuses estão ansiosos, uma nova estirpe de Deuses que estão chegando.

Estes Deuses nascem por meio de um pacto com o Ser Terra: Rea!

Rea os acolhe em troca de qualquer coisa!

Essa qualquer coisa que esses Deuses ainda não deram, mas darão!

Naquele momento esses Deuses fizeram com que Hera gemesse e tremesse, saquearam-na, todavia Hera e Rea aguardam que estes DEUSES mantenham os ajustes combinados. Um dia serão chamados para prestarem conta do que foi pactuado! Um dia deverão pagar o tributo ao Ser Terra e ao Ser Natureza! Qual é o tributo que o Ser Humano masculino e o Ser Humano feminino deverão pagar? É o grande juramento de Latona, construir templos, altares e bosques perfumados dos quais Hera extraia novo vigor e Rea extraia um grande respiro de vida!

Os Deuses correm em auxílio ao redor de Latona, somente Hera que, conhece as destruições que produzirá o recém-nascido (o ser humano), antes de cumprir com a parte que lhe cabe, mantém afastada a sua filha, Ilizia. Desse modo o parto não acontece. Os Deuses convocam Iris e enviam-na ao Olimpo para chamar Ilizia prometendo-lhe uma dádiva. Os DEUSES estão dispostos a pagarem um tributo para que o novo DEUS surja. Um grande tributo, sem que Hera saiba, que solitariamente está a gemer examinando com terror o tempo que lhe vem de encontro.

Nove dias dura aquele parto.

O ventre da vida pariu uma nova estirpe de Deuses!

Não esqueçamos: antes nasce Ártemis, o Ser Humano feminino, e esta assiste Latona no parto de Apolo.

Apolo se apresentará ao Olimpo com o arco e a flecha engastada, pronto a abrir batalha no caso de os Deuses não o reconhecerem como sendo um deles. Será desarmado por Latona que pendurará o arco em um prego de ouro.

De Apolo três ações se sobressaem.

O "pecado" de arrogância de Níobe que é punida por Apolo por meio da matança dos filhos dela. Níobe tinha insultado Latona vangloriando-se da sua numerosa prole enquanto Latona tinha somente dois filhos. A arrogância que submete e humilha é a única ação que a vida não está em condições para tolerar.

A eliminação do gigante Tizio que havia violentado Latona. Condenando a violência sexual a um ato de impotência do homem para relacionar-se.

A batalha entre Zeus e Apolo sobre a imortalidade dos corpos físicos. Enquanto a Natureza estabelece uma só possibilidade, Asclépio, filho de Apolo, ressuscitava os mortos e por isto foi fulminado por Zeus. Não é reconduzido ao útero da razão quem superou o umbral da morte do corpo físico. Para se vingar, Apolo, que é corpo físico masculino, empenhado em manter-se no seu estado, matou os Ciclopes que tinham construído o raio para Zeus. Zeus quer mandar Apolo ao Tártaro, mas Latona o convence de desistir. Assim, Apolo foi condenado a servir como escravo (conforme diz Apolodoro). Eu não sei se aquela condenação está ainda sendo executada, o fato é que o Ser Humano masculino até agora continua servindo o deus patrão cristão que promete a ressurreição da carne.

Isto é o que nasce de Zeus com Latona.

*NOTA*: As citações da Teogonia de Hesíodo são extraídas da tradução de Ettore Romagnoli "Hesíodo os poemas" Edição de Nicola Zanichelli, Bolonha 1929

Nota através da transmissão radiofônica do ano 2000 - início da revisão em 18 de setembro de 2014

Revisão

Marghera, 13 de novembro de 2014

A tradução foi publicada 30 de abril de 2016

Aqui você pode encontrar a versão original em italiano

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Claudio Simeoni

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Guardião do Anticristo

Membro fundador da Federação Pagã

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A análise da Teogonia de Hesíodo

A Religião Pagã forjou uma visão própria do mundo, da vida e do vir a ser das consciências desde as origens do tempo. Tais ideias coincidem no tempo presente com as ideias das religiões e dos primeiros cultos antes da chegada da filosofia, e foram hostilizadas militarmente pelo ódio cristão contra a vida. Analisar Hesíodo nos permite clarificar o ponto de vista da Religião Pagã.